O olho humano possui uma lente transparente chamada cristalino, que está localizado atrás da pupila (“menina do olho”). É o cristalino que foca as imagens na retina e permite ver nitidamente os objectos que estão próximos ou distantes, pois é uma lente multifocal.
A catarata é a opacificação e perda de transparência do cristalino, que provocam visão baça ou mesmo cegueira. Cerca de 50% das pessoas com mais de 60 anos apresentam algum grau de catarata. Não existe qualquer medicamento eficaz e capaz de evitar o aparecimento ou a progressão da catarata. A cirurgia com a extracção do cristalino opacificado e implante de uma lente intra-ocular é o único tratamento apropriado para a diminuição da visão ou cegueira provocadas pela catarata.
Até há pouco tempo as lentes intra-oculares, que se utilizavam com sucesso após a extracção da catarata, eram lentes monofocais. Assim, se a pessoa ficava a ver bem ao longe sem óculos precisava de óculos para ver ao perto e para ler. Se ficava a ver bem ao perto sem óculos, precisava de óculos para ver à distância.
Nos últimos anos, surgiram várias lentes intra-oculares com características multifocais, isto é, com a possibilidade das pessoas obterem visão nítida à distância e, simultaneamente, ao perto sem terem de usar óculos, semelhante ao que acontece às pessoas com menos de 40 anos quando vêem bem ao longe e ao perto. Algumas destas lentes multifocais são a 1CU HumanOptics, AT-45 Crystalens e a AMO Array Advanced Medical Optics. Há outras lentes que estão em fase de estudo. Apesar da visão à distância, com estas lentes ser boa, a visão ao perto é algo deficiente pelo que as pessoas necessitam de usar óculos na leitura.
No início de 2004 surgiu uma nova lente multifocal, Acrysof Restor Alcon, a qual possui anéis difractivos concêntricos que permitem visão nítida à distância e ao perto sem necessidade de óculos.
Num estudo em que implantei 86 destas lentes em 60 doentes operados à catarata, com anestesia local, pela técnica de microincisão, 80% destes olhos obtiveram visão nítida à distância e ao perto sem óculos. Cerca de 15% necessitaram de usar óculos temporariamente mas por erro no cálculo da lente intra-ocular, contudo, as lentes dos óculos não tiveram de ser progressivas. Os doentes não apresentaram queixas de perturbações visuais diurnas nem nocturnas, tendo ficado a grande maioria muito satisfeitos.
As lentes multifocais não podem ser utilizadas em todos os doentes operados à catarata, pois devem ser excluídas as pessoas com doenças na retina, algumas patologias oculares, astigmatismo e no caso de cirurgia complicada.
Cerca de 50% das pessoas operadas à catarata beneficiam se for utilizada uma lente multifocal, uma vez que possibilita uma boa visão ao longe e ao perto sem óculos melhorando a sua qualidade de vida.